Diante da mudança da política mundial, os dois começaram a se preparar política e psicologicamente para o retorno às grandes cidades. Seu Doca e Lilia (Euler e Isaura) trocaram a vida clandestina pela vida legal e o trabalho subterrâneo pela política aberta. Voltariam a ser Euler e Isaura.
A ditadura militar não foi derrubada no início dos anos 80, mas metamorfoseada para uma falsa e limitada “democracia”. Na época, o povo exigia a anistia ampla, geral e irrestrita, constituinte livre e soberana e eleições diretas. Em vez de anistia ampla, geral e irrestrita, veio a impunidade para os traidores da pátria. Em vez de eleições diretas, eleições indiretas. Mesmo Tancredo Neves, eleito indiretamente, morreu de doença suspeita antes de tomar posse, assumindo o vice-presidente José Sarney, velho serviçal da ditadura militar. Isaura, Euler denunciavam a difícil situação.
Em 1979, o casal foi anistiado e se mudou da Mata Amazônica para São Paulo. Em 1980, Euler Ivo foi enviado para Goiás, sua terra natal, para reconstruir o Partido Comunista do Brasil, que havia sido destroçado durante o regime militar pela forte repressão contra a guerrilha do Araguaia e os democratas em geral.
Isaura trabalhou como enfermeira na Santa Casa de Campinas. Grávida de Maíra e com Tatiana Lemos ainda pequena, liderou um movimento por melhores salários, junto aos funcionários do hospital. Foi demitida e ainda recebeu o apelido de “Lula do Hospital”. Naquela época, o metalúrgico Lula era a grande referência da luta sindical brasileira.
Em 1980, nasceu a segunda filha do casal, Maíra, que se tornaria mais tarde uma cantora de sucesso nacional. Isaura e Euler estabeleceram contatos com as lideranças mais conscientes e determinadas do movimento popular urbano, o que possibilitou a criação de uma força núcleo dirigente determinada. Apesar de Goiás ter sido berço da UDR e vítima da feroz repressão à guerrilha do Araguaia, o Estado foi um dos lugares onde o partido cresceu mais rápido.
Isaura e Euler passaram a ser respeitados, mas ainda discriminados. Em 10 anos, já eram mais de 13 mil filiados, com hegemonia no movimento estudantil, sindical rural e parte do urbano, e cadeiras na Câmara Federal, estadual e municipal. Já nos anos 90, Euler se desfiliou do PC do B por ter sido atacado por antigos companheiros.
No ano de 1981, Isaura e Euler criaram em Goiânia o Movimento contra a Carestia. Depois, conclamaram o povo a lutar pela melhoria do transporte coletivo da capital. Também ajudaram a construção de partidos de esquerda e diversas outras organizações populares de resistência à ditadura. Isaura fez parte da comissão que organizou o 1º Congresso das Classes Trabalhadoras.
Já em 1982, Euler foi eleito vereador de Goiânia. Sua posse ficou marcada quando retirou o quadro do ditador presidente, General Figueiredo, da parede da Prefeitura de Goiânia. Seu mandato se tornou um instrumento de luta dos moradores de bairros da periferia por benefícios.
Isaura Lemos, como dirigente partidária, era uma incansável lutadora pela redemocratização e reorganização das entidades populares e sindicais. Foi ativa militante da causa feminina. Ajudou na fundação do Centro Popular da Mulher, entidade dedicada às mulheres da periferia. Sempre apoiou o Centro de Valorização da Mulher (Cevam). Por mais de 10 anos, Isaura se dedicou à formação dos novos militantes e elaborou artigos sobre as questões socialistas. Em 1985 e anos subseqüentes, Isaura e Euler participaram ativamente da luta política, que abria o caminho da democracia no Brasil.